8.5.11

2082/renaissance


Este céu sobre mim é o mesmo com o qual vocês ainda sonham...

Ele não foi queimado, sequer tornou-se vermelho, nem está infestado de aeronaves luminosas. De fato, se pudesse dizer com alguma segurança, diria que, hoje, ele estaria tão puro e simples quanto em 1882. Tudo bem, aqui e ali vemos uma aeronave de branco brilhante cruzar o azul, silenciosa como um pássaro. Também vejo, cada vez menos, um ou outro sensor atmosférico flutuando sobre nós, monitorando o risco de impacto ambiental - praticamente inexistente - e multando uma ou outra cidade mais relapsa.

Sim, tomamos algum juízo.

Ainda me lembro quando, ainda jovem, vi certo filme de 1981, onde 2019 estava tão mais distante que o meu 2082. Sonhamos longe. Sempre. Naquele 2019 sonhado, o céu escuro de uma cidade de neon era rasgado por milhares de veículos voadores, pássaros de aço de um apocalipse iminente.

Já fomos pessimistas.

Vivemos nesta de década de dois mil e oitenta, um novo Renascimento; um embrião para a regeneração do planeta. A grande inconsciência das primeiras décadas transformou o céu em uma peneira de ozônio e derreteu grande parte dos glaciares. A China anunciou a tecnologia de regeneração da ozonosfera e, por sua vez, a ONU aprovou a clonagem massiva de várias espécies da fauna e flora, no ideal de recuperar o paraíso perdido. O genoma humano tornou-se uma carta aberta e a terapia genética um bote salva-vidas.

Mas não se enganem. Não melhoramos assim tanto.

Nesta neo-renaissance, observo, aos poucos, o dissolver da bioética na qual durante tantos anos acreditamos. Um simples acessar na neoweb, e, click, é possível comprar clones de espécies da fauna e flora extinta. A edição do próprio genoma virou uma moda entre a juventude, onde é mesmo possível simular um sem fim de possibilidades do Ser. Crianças que nascem programadas pelos desejos de seus pais, livres das sortes lançadas no processo de quiasma...

Mas o aspecto de toda essa maravilha que hoje tira-me o sono é a sombra densa e invisível que enxergo claramente no advento da clonagem humana e no seu universo infinito. Uma chave capaz de abrir os portões do céu e do inferno. Nos cantos mais escuros da neoweb circulam rumores de experiências que cospem na face de um Deus cada vez mais esquecido. Assustou-me especialmente um relato - ou boato - sobre um certo rapaz, de nome Max, penso eu. Talvez um nome fictício, ou fictícia personagem. Gostaria de acreditar nessa última possibilidade... Um clone dessa geração de entes mais ou menos queridos que subornam a dor de perdas e tragédias com tubos de ensaio e personificações de Deus. Max nasceu como uma simulação de felicidade, mas o mundo lembrou-lhe cedo demais que ele seria uma alma condenada a provações. Se o que li for verdade, então que Deus o ajude...



3 comentários:

  1. OI...
    Tem um presente pra vc no meu blog... vai la ver!
    ^^

    adorei o post.

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  2. Do passado ao futuro, belo post.


    www.bigodaostudio.blogspot.com

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  3. Aiii me deu medo, saber que meus filhos talves viverão isso rsrsrsrs
    Até mais!

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