29.1.13

prólogo do nada



Sol. Sal. Seca. Essas eram as três palavras que ela mais odiava. Pobre habitante daquela terra inóspita, esse ódio visceral ser-lhe-ia perdoado pelos deuses, eventualmente. Era isso que carregava na mente a cada passo que dava; passos descalços sobre a terra ardente, com sede de chuva.

Carregava na cabeça uma lata enferrujada, pesada de água turva e salobra, arrancada de uma fonte quase seca. Com a força de um frágil titã, ela caminhava por aquela estrada sem sombra, sem margem, sem pena. Jamais vacilava no seu passo, cansado, mas firme. Ele estava à sua espera, bem o sabia. Teria sede e fome, com certeza. Naquele horizonte turvo de poeira, ela via com clareza o seu menino à sua espera.

- Dai-me forças para chegar... – murmurava baixinho, como uma prece, sempre que as forças lhe ameaçavam faltar.