7.8.12

ximena



Ximena caminhava pela estrada escura de barro e pó. Estava cansada de caminhar pela vida. Já fazia tempo que a chuva não a refrescava e alguma sombra a guardava. As solas dos seus pés estavam duras, ásperas, pois elas conheciam cada pedra, cada dor, cada serpente pisada. As linhas do seu rosto eram vales de suor seco, que perdeu a coragem de escorrer pela pele castigada. O brilho dos seus olhos tristes já lá ia, e nem mais as estrelas refletia ou copiava.

Ximena não mais se lembrava de há quanto tempo andava, sem norte, sul ou destino certo. Apenas caminhava em direção ao nada, ao vazio, para longe da ferida que rugia em algum lugar demasiadamente perto. Nem sequer se lembrava de onde partira; se do inverno sem fim, ou da primavera em flor vitrificada. Certeza tinha que era órfã de rumo, de dor, de felicidade pintada.

Ximena, no entanto, ainda se lembrava das noites vazias, do escuro surdo por onde caía cada vez que para dentro do seu peito olhava. Sabia que ali dormiam os seus fantasmas. Naquele breu os guardava, acorrentados, amordaçados, imersos em chumbo e água. Não chorava por eles, mas lembrava-se bem do sal da sua mágoa.

Ximena morria a cada passo que dava. Rezava para esquecer onde havia exilado seu coração. Fazia pactos com o invisível para não se lembrar das dores despidas, da tortura sem nome, do ruir da ilusão. Pedia para perder tudo que ainda tinha. Queria ser um fantasma, sem alma, sem razão... Sonhava ser uma existência cega e calada, imersa e acorrentada no abismo sem fundo deixado pelo seu coração.

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