21.2.13

fogo


 Vermelho.

Por detrás da cortina fina de suas pálpebras, ele encarava aquele espectro púrpuro que lhe beijava o rosto com sua luz quente. Era o sol que já sangrava no horizonte, afogando-se lentamente na escuridão. Uma orquestra de centenas de cigarras abafava o barulho dos carros, das obras, engolia o bulício da rua no fim da tarde. Enquanto todas aquelas pessoas lá em baixo lutavam para voltar para casa, após um dia duro de trabalho, Felix começava o seu.

 — A noite vai ser quente murmurou para si mesmo, saboreando o calor seco.


 Encostado no parapeito de pedra do terraço de um hotel caro da cidade, vestindo apenas uma calça jeans gasta, Felix abriu os braços para sentir em seu torso nu o sopro caloroso dos ventos que se levantavam. Um manto de poeira cor de bronze flutuava sobre a cidade como uma aura quente. Naquela luz de fim de tarde, tudo parecia estar em chamas. Anoitecia tarde no verão. O céu queimava em brasa perto das nove horas e se tornava em noites curtas e quentes, aquecidas por pecados muito mais ardentes do que os das longas noites de inverno. No verão, o desejo e a luxúria estavam em carne viva. Era a sua estação preferida.

Felix deu um longo trago no seu cigarro e expirou a fumaça quente com prazer. Ainda tinha em sua boca o sabor do batom, do vinho e do fogo. Em sua pele, o cheiro de vários perfumes, suor e saliva, misturavam-se em um memorial pecaminoso. As mulheres dormiam no quarto, exaustas de um dia inteiro de sexo e excessos. A sexta-feira perfeita. Felix sentia a cabeça pesada e o corpo dolorido, especialmente em naquela parte que se escondia atrás do zíper. Puxou displicentemente um longo fio de cabelo loiro que estava colado no seu peito e lançou-o ao vento. Com a mesma mão, acariciou levemente os arranhões feitos por unhas vermelhas em seu ombro esquerdo, no seu peito, na sua barriga. Sentia uma dor salgada que se espalhava pelas suas costas. Provavelmente outros arranhões, causados nos momentos em que os corpos estavam em brasa e que apenas doíam quando a carne arrefecia.

Prazer sem dor não existe.

{ brevemente }


4 comentários:

  1. Parabéns!

    O seu blog é fabuloso.

    Abraços.

    O Pássaro das Sombras

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  2. Há muito não passava por aqui, distante que estou da blogosfera, mas hoje vim e me dei conta do que perdi... Uma leitura saborosa que me deixou um gostinho de quero mais.Vou aguardar.

    Beijinhos.

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  3. Olá.
    Muito interessante o seu blogue.
    Estou lhe deixando um ...
    CONVITE
    Passei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
    Eu também tenho um, só que muito simples.
    Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
    Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
    Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
    E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
    Força, Paz, Amizade e Alegria
    Para você, um abraço do Brasil.
    www.josemariacosta.com

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